quinta-feira, 28 de julho de 2011

A influência da televisão no esporte

Depois da postagem sobre tecnologia. O POR DENTRO DAS COPAS traz um artigo falando sobre a influência da TV no Esporte. Será que ela chegará realmente no futebol? Confira

A influência da televisão no esporte: o caso do futebol americano

RESUMO: Decidir um lance duvidoso pela imagem de uma televisão. Esse assunto polêmico ganha força com o aumento da influência dos meios de comunicação de massa nos esportes. A presença da TV transformou o esporte em um espetáculo de consumo, criando mitos, ídolos e heróis. Entretanto, até que ponto ela deve ser usada para decidir lances polêmicos? No futebol americano a TV é utilizada e já faz parte do jogo. A experiência americana pode ser tida como exemplo para os outros esportes, ou essa presença só torna o esporte cada vez mais midiatizado e longe do espectador?

PALAVRAS-CHAVE: esportes; televisão; espetacularização; futebol americano.

Introdução

O esporte é hoje uma manifestação sociocultural importante no mundo. Ele evoluiu tornando-se elemento de democratização e agregador de países e povos. Essa evolução foi acompanhada pela mídia que enxergou no esporte um dos grandes filões para gerar consumo, ideias e paradigmas. O sucesso de alguns eventos esportivos passou a depender exclusivamente da presença dos meios de comunicação de massa. A televisão passou a ter papel determinante até na formulação de algumas regras de esportes, para se adaptarem às grades de programação e por consequência ao consumo. As imagens se tornaram os grandes aliados na produção de atletas heróis e exemplos a serem seguidos pelos apaixonados por esportes.

Com essa indústria do esporte consolidada, a televisão passou a interferir em alguns esportes. As super imagens das modernas câmeras passaram a ser tira-teimas de polêmicas e dúvidas em lances do esporte. O futebol tem se mantido bem longe dessa tecnologia e recebe várias críticas por isso. O futebol americano, objeto de nosso estudo nesse artigo, se rendeu totalmente à TV. Toda e qualquer dúvida nesse esporte é tirada com as imagens. Uma questão polêmica que nos faz pensar até que ponto a televisão pode interferir no jogo.

O que é o futebol americano?

O futebol americano é uma derivação do rugby, primo do futebol. Nos EUA ganhou novas regras que foram escritas em 1876 e aos poucos foi se distanciando do rugby e se adaptando à cultura do país onde passou a ser praticado. Uma diferença básica é que no futebol americano, quando algum jogador é derrubado o jogo é paralisado, no rugby não. As jogadas são mais elaboradas, planejadas e mais estratégicas do que no rugby. Cada equipe possui um time para atacar e um time para defender. A equipe de defesa é composta por 11 jogadores e a de ataque também. Existem as equipes especiais que entram em campo para os chutes. Existe um jogador que tem a única função de chutar a bola, chamado kicker. Cada time conta com 53 jogadores em seu elenco. Durante a partida, cada equipe pode utilizar 45 atletas, mas efetivamente apenas os 22 (11 do ataque e 11 da defesa) participam dela. Não há limite de substituições durante a partida.

O fundamental do jogo é ganhar jardas dentro do campo adversário. O campo é dividido em cem jardas. Cada equipe tem 4 tentativas de alcançar dez jardas, se não conseguir, a posse de bola passa para o outro time. Quem conseguir chegar até o final do campo do adversário ganha seis pontos com direito a um ou dois pontos de bonificação, chamado extra point. Se a estiver na quarta tentativa e longe da área final adversária pode tentar chutar a bola entre o “Y”, que fica no campo adversário e caso a bola passe entre as traves o time ganha 3 pontos. O jogo é dividido em 4 quartos de 15 minutos cada um, com paralisação do cronômetro em algumas situações.
É um jogo extremamente estratégico com ênfase no jogo de equipe, onde alguns jogadores têm em campo a única função de defender seu companheiro, para que ele possa correr, receber o passe ou fazer o passe. O jogador responsável pela escolha das jogadas de ataque é o quarterback, que possui um rádio de comunicação com o técnico de ataque. O técnico de defesa é outro, e os dois são coordenados pelo técnico principal.

Assim como em todos os esportes em seu início, a primeira transação comercial do futebol americano foi feita por preços mínimos: 10 dólares. Muito diferente dos 12 milhões por temporada de alguns astros da NFL (National Football League) ganham atualmente. Em 1897 o primeiro time formado apenas por profissionais disputou um campeonato: era o Latrobe Athletic Association. Hoje em dia, a NFL, liga profissional de futebol americano conta com 32 franquias que movimentam bilhões no mercado estadunidense, divididos em 2 grandes conferências: a AFC e a NFC.

O esporte, ao contrário do que muitos pensam, é simples e emocionante. Diferente da primeira impressão tida no Brasil, de que era complicado e chato. Ficou famoso pelas pancadas, pelas lesões e pelo alto vigor físico de seus atletas que, em vários casos, se assemelham a halterofilistas, tamanha sua massa muscular. Os uniformes e as proteções, aliadas às caras pintadas dos jogadores fazem uma associação a gladiadores que vão para um campo de batalha. Contudo, é um dos esportes mais leais, por causa da presença e uso da TV. Qualquer tipo de ação ilegal: chute, puxão de camisa, soco e etc é visto e punido com 10, 15 ou 20 jardas de penalização, o que pode decidir um jogo ou, se a infração for mais grave, causa a suspensão de futuros jogos e multas.

Para não perder nenhum desses detalhes, o futebol americano tem uma equipe de nove árbitros no campo que marcam as faltas apitando e ainda lançando um lenço (flag) amarelo no campo. Eles são divididos em: árbitro principal, 3 auxiliares, um supervisor de linha, um de campo, um de fundo, um de linha e um lateral. Além desse verdadeiro “arsenal” de “homens da lei”, temos os árbitros que serão objeto maior de nosso estudo nesse artigo: os juízes de TV. São os árbitros que ficam junto da cabine de transmissão da televisão e do telão do estádio, conferindo pelas imagens se o lance foi legal ou não.

É um esporte tipicamente americano, para eles o football é esse e o nosso conhecido futebol é chamado de soccer. No início dos anos 90 ultrapassou o baseball como o esporte mais popular do país. A televisão teve um papel fundamental para o futebol americano assumir essa liderança. Com o maior número de câmeras e a melhor qualidade das imagens o esporte se tornou um espetáculo maior do que o baseball.

Qualquer lance do futebol americano reprisado pelas várias câmeras no estádio em câmera lenta se tornou mais atrativo frente ao telespectador do que as rebatidas, corridas ou homeruns do baseball.

Na divisão entre os esportes proposta pelo pesquisador Manoel Tubino (2007), o futebol americano aparece como esporte de identidade cultural, assim como a capoeira no Brasil. É um esporte que, apesar do avanço e da proliferação para outros países por causa das transmissões esportivas, é tipicamente americano. Ele reflete os maiores valores da sociedade dos EUA: conquista com sucesso o achievement, trabalho em grupo, o orgulho cívico e eficiência. Vemos também em vários filmes que os chamados “populares” nos colégio e faculdades são os jogadores de futebol americano com suas jaquetas características, as meninas mais belas são as cheerleaders e os losers são aqueles que não têm aptidão para esse esporte, que não são tão belas ou não têm desenvoltura para serem líderes de torcida. Assim como no Brasil, este esporte é a grande chance para alguns subirem na vida e saírem de uma classe mais baixa, juntamente com o basquete. Através dele, atletas conseguem boas universidades, e destacando-se, conseguem uma vaga em algum time da NFL, nunca mais preocupando-se com seu futuro econômino.

No Brasil, o futebol americano nunca teve o sucesso esperado, talvez porque como afirma DaMatta(1982) “cada sociedade que adotava o esporte, moldava – querendo ou não, sabendo ou não - a sua organização social e valores.” Mas hoje, várias ligas de futebol americano foram criadas no país.

Assim como na NBA – Liga de basquete profissional Norte-americana, o football tem uma gestão profissional, onde as equipes são de franquias que podem mudar de cidades e pertencem a milionários ou bilionários americanos, funcionando como grandes empresas. Um exemplo disto é o estádio novo do Dallas Cowboys, que custou 1 bilhão de dólares e é considerado e estádio mais moderno do mundo, demonstrando o grande volume de dinheiro gerado por esse esporte.

Outro exemplo disso é que a maior audiência da TV americana é a final do campeonato da NFL o chamado Superbowl, onde 30 segundos valem U$ 3 milhões. O Superbowl está entre os maiores eventos esportivos do mundo, ao lado das Olimpíadas e
da Copa do Mundo. Tudo dentro do esporte é vendido, qualquer intervalo, qualquer pedido de tempo. O salário anual do quarterback do Pittsburgh Steelers, Ben Roethlisberg, o famoso Big Ben para os americanos, chega aos US$ 27,7 milhões. No último dia 7 de fevereiro, o New Orleans Saints venceu o Indianápolis Colts por 31 a 17 conquistando seu primeiro Superbowl. O evento foi visto por 153,4 milhões de pessoas, tornando-se o programa mais assistido da História da TV americana. (NFL,2010)


Esses números impressionantes mostram, além da importância desse esporte na cultura americana, a influência da TV no futebol americano. O futebol americano simboliza muito a cultura norte-americana e a televisão se encarregou de espetacularizá-lo e vendê-lo como uma grande mercadoria, como mostram os números acima.

A espetacularização do esporte

A mídia, cada vez mais influencia o espetáculo esportivo. Antes, um torcedor precisava ir até à banca de jornal ou ir ao estádio para saber o resultado do jogo. Com o rádio, depois a televisão e hoje a internet, ele não precisa sair de casa para acompanhar seu esporte preferido. A presença da televisão é fundamental para o sucesso do esporte. É o que afirma NUZMANN (1996:15), presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB)

...o Presidente do Comitê Olímpico Internacional COI, Marques Juan Antônio Samaranch ressaltou que os esportes que não se adaptarem à televisão estarão fadados ao desaparecimento. Da mesma forma, as televisões que não souberem buscar acesso aos programas esportivos jamais conseguirão sucesso financeiro e de público.
A televisão procura o tempo todo espetacularizar suas imagens para vendê-las e isto não é diferente com o esporte. Dessa forma o esporte passou a ser uma mercadoria e se tornou um show de entretenimento. A partir desse momento podemos analisar e entender qualquer atleta como um produto que pretende ser vendido, que quer ser visto como o melhor, e que todos, para serem tão bons quanto ele, devem ser como ele. Surgem assim, os grandes astros e celebridades do esporte: o “fenômeno”, o “rei”, o “imperador”, o “atleta do século”, o maior de todos os tempos em todos os esportes.

Dessa forma, o espetáculo, como parte da sociedade, de acordo com o cientista Guy Debord (2006), para ser compreendido na sua totalidade, precisa ser percebido
numa relação social entre pessoas, midiatizada por sons e imagens. Debord ainda afirma que, à medida que o consumo aumenta, aumenta também o número de espetáculos, o que nos coloca na “Era do Espetáculo”. A sociedade hoje preza muito mais a imagem, vale mais parecer do que ser.

“E sem dúvida o nosso tempo...prefere a imagem”a coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser...Ele considera que a ilusão é sagrada, a verdade é profana. E mais: a seus olhos o sagrado aumenta à medida que a verdade decresce e a ilusão cresce, a tal ponto que, para ele, o cúmulo da ilusão fica sendo o acúmulo do sagrado” (DEBORD, 2006, p.13)

Com a espetacularização do esporte, os salários dos jogadores se multiplicaram na mesma proporção que a evolução da cobertura e o número de câmeras analisavam cada imagem dos atletas. O aumento da audiência trouxe mais telespectadores do que espectadores ao mundo esportivo. Esse fator tornou eventos mais televisivos e mais preocupados com quem acompanha, sob a ótica dos meios de comunicação, do que quem acompanha o esporte ao vivo e a cores no estádio ou ginásio.

Foi o que aconteceu com o vôlei. Antes disputado em “sets” com vantagem e somente o “set” decisivo sem vantagem. A vantagem significava que somente quem efetuasse o saque, poderia marcar pontos. Isso fazia com que uma partida durasse horas, não se encaixando nas grades de programação televisiva, pois o jogo tanto poderia terminar em uma hora quanto durar mais de três. Independentemente se o espectador acompanhasse um grande jogo de 4 horas ou 2 horas, a visão de consumo do produto mostrado ao telespectador fez o esporte se adaptar à televisão. Assim como o basquete, que recentemente adotou quatro tempos, como no basquete profissional americano, para poder vender mais intervalos. O futebol também sofreu algumas alterações, como o gol marcado fora de casa como critério de desempate em competições no estilo mata-mata. Embora afirmem que a regra é para incentivar as equipes a marcarem gols fora de seus domínios, ela foi feita para dificultar ao máximo uma chance de prorrogação e disputa de pênaltis, o que atrapalha toda a grade de programação. Portanto, a presença decisiva da televisão para o sucesso e o esporte como negócio é mais do que uma constatação: é uma lei.
A condição pós-moderna conferida ao esporte atual pode ser justificada pela relação de dependência estabelecida com os meios de comunicação de massa e o conseqüente ajustamento de sua prática em função das exigências e necessidades desses meios. (RUBIO, 2002, p.6)

Dentro dessa “lei” e imposição do mercado em vender imagens e espetacularizá-las a todo momento, a TV, com toda sua tecnologia, passou a ir além do olho humano. O grande número de câmeras dispostas em um evento esportivo passou a nos mostrar dois tipos de jogos: o visto ao vivo e o visto pela tela.

Supressão dos tempos mortos, inserção de sequências pré-gravadas, entrevistas ao vivo, focalização sobre os atletas vedetes, replay das imagens decisivas, tomadas múltiplas e diferenciadas em vários planos os replays e as diferentes velocidades conferem uma força estética e sensitiva, ao mesmo tempo que hiper-real, á imagem esportiva. Acabaram-se as retransmissões uniformes: a cobertura deve ser agora polimorfa e o estilo ritmado (LIPOVETSKY e SERROY, Apud BEDENDO, 2010)

O pesquisador Ricardo Bedendo afirma que a dependência do olhar/byte chega ao ponto de assistirmos a um jogo na arquibancada esperando o replay e a câmera lenta tirar a dúvida em um lance polêmico. “o cardápio oferecido por essas teles altera radicalmente as transmissões e consequentemente os comportamentos de todos os envolvidos no jogo, como imprensa, atletas, dirigentes, árbitros, comissões julgadoras e instituições promotoras” (BEDENDO,2010) A televisão encontrou no esporte espetáculo sua maior consagração, reescrevendo o espaço-tempo de competições de alto nível.(LIPOVETSKY e SERROY, Apud BEDENDO, 2010)
Não é difícil observar durante os grandes eventos esportivos como NBA e a Copa do Mundo FIFA, que atletas se olhem nos telões espalhados no estádio ou no ginásio após um lance para saber como “ficou na foto”. E não só os jogadores se valem dessa visão de telespectador, mas também os jornalistas presentes no estádio, congelando e repetindo imagens para tirarem a dúvida da sua primeira impressão no lance. Os dirigentes passaram a se queixar com frases típicas como “todos vocês viram na televisão”. Os Tribunais de Justiça Desportiva também usam as cenas para punir o jogador e imagens para identificarem torcedores que não se comportam dentro dos estádios ou para punirem clubes.

Todos esses efeitos da televisão dentro do esporte são notórios. Mas, quando a televisão, além de imortalizar os ídolos do esporte pelas imagens, passa a entrar dentro dele, definindo se um lance foi legal ou não? Em alguns esportes o recurso tecnológico já tem essa influência e em muitos casos o voto final. No Tênis, um atleta pode desafiar a arbitragem para saber se uma bola foi dentro ou foi fora, e nessa hora a tecnologia entra em campo para tirar a dúvida. No Basquete alguns lances são vistos no telão para analisar melhor se o cronômetro zerou antes ou não.

No Turfe, Atletismo e Fórmula 1 temos uma máquina de alta precisão na linha de chegada que decide quem chegou em primeiro lugar. Mas de todos os esportes não existe nenhum que a televisão tenha tanta influência quanto no futebol americano.
Este esporte se tornou o mais popular dos EUA desde os anos 90, com os times universitários, que têm uma liga televisionada e com grandes números de audiência. Isso mostra a forma como a TV se incorporou a este esporte e passou a ser parte integrante do mesmo. Mas engana-se quem pensa que a presença da TV retira os torcedores do estádio. Em qualquer jogo, seja universitário, colegial ou na liga profissional é raro ver estádio vazios.

A TV entra em campo como juiz

Fica bastante claro que no esporte deixamos de ser espectadores para sermos telespectadores e é no futebol americano da NFL que constatamos o maior efeito da TV dentro de um esporte. Além de transformar as imagens, os tackles e os passes em imagens espetaculares, não existe nenhum esporte que esteja tão aliado à TV quanto o futebol americano.

No futebol foi amplamente discutida a tecnologia durante a última Copa. Os erros de arbitragem como o gol legal de Frank Lampard no jogo contra a Alemanha, quando o jogo estava 2 a 1 para os alemães. O uruguaio Jorge Larrionda e seu auxiliar não viram o que as 32 câmeras espalhadas no estádio mostraram para todos os telespectadores do mundo: a bola entrou. Assim como o impedimento no gol Argentino contra o México, mostrado nas telas do estádio e o que levou aos mexicanos a mostrarem o imenso telão do estádio como argumento maior de sua reeinvindicação.
Além disso a Irlanda já tinha sido eliminada da disputa da fase final do Mundial na África do Sul por uma mão absurda do francês Thierry Henry. Todos esses lances inflamaram os comentaristas esportivos e envolvidos com futebol no mundo todo. O tema tecnologia no futebol ganhou força, como a implantação de um chip na bola, que também foi discutido. Mas, todas essas tecnologias, que fizeram parte da Copa do Mundo da FIFA, como jogos em 3D, supertelões nos estádios, jabulani, transmissões em HD, câmera superlenta com imagens espetaculares continuaram somente para os telespectadores em casa. Nada disso foi para dentro de campo.

Totalmente diferente do futebol americano. A TV funciona como juiz nesse esporte. Não existe nenhum esporte mais integrado com a televisão e seu show de imagens, que o futebol americano. O esporte conta com os seus 9 juízes dentro de campo. Qualquer tipo e falta, por mais longe do lance que ela ocorra é evidenciada pelas imagens no telão do estádio na hora, tirando qualquer tipo de dúvida dos times e do espectador que se torna telespectador quando está no estádio, pois tira seus olhos do campo para direcioná-los às grandes telas que vão decidir o lance. Uma comissão de juízes assiste ao jogo dentro da cabine de transmissão de TV voltando os lances, congelando as imagens e frisando o lance polêmico. Qualquer falta ou lance ilegal é visto pelos árbitros ou pelas câmeras e imediatamente o jogador infrator é punido.

É impressionante assistir uma partida de futebol americano pela TV, pois alguns lances que os árbitros marcam a falta são quase imperceptíveis e apenas com o recurso da TV é possível vê-los. No jogo San Francisco 49ers e New Orleans Saints, que vamos analisar neste artigo, a TV foi utilizada para decidir um lance decisivo que empatou o jogo há 1 minuto e 19 segundos do fim. O time de San Francisco marcou o touchdown, jogada com o maior número de pontos no esporte. Quando se marca o touchdown pode-se decidir se a equipe vai chutar a bola no “Y” e conseguir 1 ponto extra ou tentar 2 pontos extras, mas através de uma jogada sem chute, o que é mais difícil. Como o jogo estava 22 a 20 para os Saints, que teria a posse de bola até o final do jogo e apenas ia esperar o jogo acabar, os 49ers tentaram a conversão de 2 pontos para empatar o jogo, se defender até o final e ir para a prorrogação. No momento do lance, os juízes invalidaram a tentativa, pois afirmaram que o jogador do time de San Francisco não estava dentro da endzone, portanto toda a equipe de New Orleans comemorou a vitória e a boa jogada defensiva que impediu o adversário de receber a bola dentro da zona final. O técnico do San Francisco desafiou a arbitragem pedindo a análise pela televisão. Depois da imagem ser mostrada no telão e ficar comprovado que o atleta estava com os dois pés dentro da zona e tinha o controle da bola a TV mudou o rumo do jogo. O juiz oficial ligou o microfone, ligado ao alto-falante do estádio e anunciou, para todos os presentes como espectadores que já tinham visto como telespectadores nos telões no estádio, que o lance foi legal e que os 49ers tinham conseguido os 2 pontos, para delírio total dos torcedores no estádio. No pouco tempo que faltava os Saints ainda conseguiram marcar um Fieldgol e venceram a partida.

Isso nos traz um grande tema que é a presença da imagem como juíza nos esportes. A sociedade americana é amplamente incorporada à mídia e aos seus apelos de consumo e trata todos os esportes como negócio. O erro de arbitragem é condenado por atrapalhar não só o esporte, mas todo um investimento de uma temporada à mercê das mãos, ou melhor, dos olhos de um juiz. Deu certo no futebol americano, e só pode ser executado nos grandes eventos, pois a TV é parte integrante do esporte e sem ela não é possível solucionar as dúvidas e questões do jogo. Dessa forma, obriga a televisão a estar presente com todo seu aparato em qualquer jogo, seja ele da liga profissional NFL, seja ele da liga universitária NCAA, tornando-o um espetáculo e aumentando o número de pessoas que vão acompanhá-lo e consequentemente sua popularidade.


Considerações finais


A questão é que a televisão passou a ser decisiva ao transformar os esportes em espetáculos. Seu papel para aí ou ela pode realmente entrar em campo como no futebol americano, sendo a juíza ou influenciando totalmente a partida?

A polêmica que tratamos no artigo deve ser muito debatida. A televisão deve realmente entrar dentro do jogo esportivo como no futebol americano? O olho humano não consegue mais acompanhar o que acontece em campo e precisamos do olhar byte para esclarecer as dúvidas? Até que ponto essa tecnologia estraga o espetáculo esportivo?

É melhor o debate sobre o erro do juiz? Ou é melhor a justiça através das
imagens para decidir se a bola entrou ou não, se foi falta ou não? Abordamos mais o futebol, por ser o esporte onde a tecnologia tem menos influência no resultado, mas e nos outros esportes, até que ponto a TV, além de mostrar um show de imagens ao telespectador, deve ser juíza em lances polêmicos?

Neste caso, a democratização do futebol, que qualquer amante dele pratica pelo mundo seria diferente do praticado pelas estrelas, pois não teríamos câmeras em todos os estádios para tirar todas as dúvidas. A imagem realmente vale mais? No futebol americano, com toda a cultura americana envolvida, a experiência dá muito certo. A cultura dos EUA é totalmente televisiva, tratando o esporte como negócio e de forma extremamente capitalista. Assim, nunca deixariam a decisão de um campeonato que movimenta bilhões em cima de uma pessoa, isso não passa credibilidade no mundo de investimentos. Na sociedade do espetáculo, de telas e bytes que transformaram o esporte no maior fenômeno sócio-cultural do mundo, devemos trazer toda a tecnologia para dentro de campo como no futebol americano ou mantê-la longe das decisões como no futebol?

Uma vez que o futebol, como todos os e outros esportes, se tornou negócio, quanto menor a chance de erro, melhor para quem investe. Como quem investe manda no esporte, eu acredito que sim, é uma questão de tempo para que a FIFA sofra pressões de seus patrocinadores e o futebol comece a introduzir a tecnologia para tirar a dúvidas de lances polêmicos.

REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, Jean. Tela Total : mitos e ironias na era do virtual e da imagem. Organização e tradução de Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 1999.
BEDENDO, Ricardo. A Copa dos campos e a Copa das telas: comunicação, tecnologia e as novas interpretações do football. 1XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Caxias do Sul, RS, 2010.
BETTI, Mauro. A janela de vidro: Esporte, televisão e educação física. 3.ed. Campinas: Papirus, 2004.
DA MATTA, Roberto et. al. Universo do Futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakoteque, 1982
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Traduzido por: Estela dos Santos Abreu. 7. impressão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
FALK, Gerhard. Football and American Identity. New York; The Haworth Press, 2005.
FRONTELMO, Paulo Antônio Coelho Soares; RIBEIRO, Carlos Henrique de Vasconcellos. Futebol americano no Brasil: estratégias e limitações no país do futebol. UNISUAM, 2006. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd102/futebol.htm Acesso em: 22set.2010
LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A Tela Global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: Sulina, 2009.
NFL. Chronology of Professional Football. Disponível em: http://www.nfl.com/ Acesso em 22set.2010.
NUZMANN, Carlos Artur. A importância do marketing esportivo no esporte. Seminário INDESP de Marketing Esportivo. Ouro Preto: INDESP, 1996.
RUBIO, Katia. O trabalho do atleta e a produção do espetáculo esportivo. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. VI. nº 119 (95), 2002.
SANTOS, Nei Jorge Júnior. Espetacularização esportiva na TV: ações e desafios à educação física escolar. Universidade Gama Filho, 2007. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd111/espetacularizacao-esportiva-na-tv.htm Acesso em: 22set.2010
TUBINO, Manoel Jose Gomes; TUBINO, Fábio Mazeron, GARRIDO, Fernando Antônio Cardoso. Dicionário Enciclopédico Tubino do Esporte. Rio de janeiro: Senac, 2007.

Um comentário:

  1. Boa tarde amigo, gostaria que vc me ajudasse; Estou desenvolvendo meu TCC, trabalho de conclusão de curso (educação física), este sobre futebol americano, e gostaria de utilizar este artigo nas minhas referências e em citações no desenrolar do trabalho, vc poderia me enviar o nome completo do autor deste texto e se ele foi publicado em alguma revista eletrônica e etc?
    Meu e-mail: kmat_gf@hotmail.com
    Agradeço desde já.

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