segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Por dentro da Copa Roca - A SUPREMACIA BRASILEIRA



Na última postagem da retrospectiva da Copa Roca, o Por Dentro das Copas enumera a supremacia brasileira na competição. São 31 anos de confrontos que ajudaram o Brasil a fazer sua história no futebol sul-americano.

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1945 - Brasil vai de São Paulo até o Rio e reencontra as vitórias contra a Argentina



Na década em que o futebol foi derrotado pela II Guerra Mundial, a Copa Roca retornava depois de cinco anos. A Argentina trazia a geração na qual se destacava Pedernera e brilhavam nomes como Rafanelli, Masantonio e Gandulla (jogador cordial que chamava mais atenção por se prontificar a pegar a bola quando ela saía de jogo, e que é hoje reverenciado como nome dos coadjuvantes das partidas). O Brasil mantinha nomes como Leônidas e Heleno de Freitas, mas mesclados à nova excelência de Zizinho e Ademir de Menezes.

Só que a desigualdade vinha também por um estigma: há cinco anos os brasileiros não conseguiam vitórias sobre os hermanos. Isto explica a ansiedade do primeiro jogo, realizado no Pacaembu. Mesmo conseguindo uma virada depois de, por duas vezes, estar atrás do placar, o excesso de oportunidades perdidas foi fatal. No fim, 4 a 3 para a Argentina e, segundo jogadores e o treinador Flávio Costa, com direitos a hostilidades constantes da torcida paulista. Zizinho foi o mais perseguido, porque três anos antes foi o responsável por ter quebrado a perna do jogador Augustinho.

Alguns quilômetros depois, o Brasil encontrou abrigo no Rio de Janeiro. Segundo dados históricos, 50 mil pessoas foram a São Januário e assistiram à redenção brasileira. Com Zizinho, Chico, Heleno de Freitas, Leônidas (em seu último gol com a camisa brasileira) e dois gols de Ademir, a Seleção Brasileira venceu o segundo jogo por 6 a 2. A dois dias do Natal, o Brasil recebeu de presente a conquista da Copa Roca. Após 60 minutos de tentativas frustradas diante do goleiro Ogano, o time de Flávio Costa venceu por 3 a 1, com gols de Chico, Lima e um gol contra de Fonda (Martino fez o gol dos argentinos). O Brasil reencontrava as vitórias contra a Argentina, e começava a rascunhar a base que, infelizmente, perderia a Copa de 1950.

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1957 - Con mucho gusto, yo soy Pelé



Passados 12 anos, a Copa Roca teve uma nova edição desacreditada graças à Europa. No continente europeu estavam os principais jogadores argentinos (dentre eles, Di Stéfano, que se consagrou no Real Madrid). Os brasileiros partiam para lá, representando seus clubes em excursões - prática corriqueira nesta década, e que ajudou ainda mais a consagrar o futebol nacional.

A História provou que esta Copa Roca merecia ser vista. Os 60 mil presentes no Maracanã em 7 de julho de 1957 se tornariam os primeiros espectadores a ver PELÉ com a camisa da Seleção Brasileira. O clamor por sua entrada provavelmente era por achar que o futebol apresentado com a camisa do Santos poderia render, num Brasil que perdia por 1 a 0 após o fim do primeiro tempo. Só que o apelo de cada torcedor presente no estádio carioca ajudaria a começar a contar seu número de gols: após lançamento de Moacir, o garoto de 16 anos tocou na saída do goleiro Carrizo para marcar seu primeiro gol brasileiro. O gol do camisa 13 foi insuficiente pra evitar a derrota - a Argentina depois marcou pela segunda vez e venceu por 2 a 1, com gols de Labruna e Juárez - mas suficiente para escrever as primeiras linhas daquele que chamam de Rei do Futebol.

No segundo jogo, a Copa Roca assistiu a mais um capítulo da história de Pelé. Diante de 70 mil pessoas presentes no Pacaembu, o jogador atuou como titular pela primeira vez com a camisa da Seleção Brasileira. E marcou pela segunda vez com a camisa amarela - aos 29 minutos de jogo, recebendo passe de Mazzolla para abrir o placar. O mesmo Mazzolla faria o gol da vitória por 2 a 0 (um dado curioso: este atacante, na Copa realizada no ano seguinte, foi barrado para a entrada de Pelé como titular na competição). Com uma vitória para cada lado, haveria a realização de mais uma partida. Só que os argentinos, apressados para voltar a Buenos Aires e reforçar seus respectivos clubes, preferiram a realização de uma prorrogação. A falta de gols nos 30 minutos extras confirmou a vitória brasileira, porque o critério de desempate era o título ir para as mãos do vencedor do torneio anterior.

Pelé e a camisa amarela começavam a se conhecer muito bem. E a Seleção Brasileira começava a encontrar a equipe ideal para se tornar campeã mundial em 1958.

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1960 - Entressafra brasileira pouco aproveitada

Da equipe titular na final da Copa de 1958 contra a Suécia, apenas o goleiro Gilmar, o lateral Djalma Santos e o zagueiro Bellini foram a Buenos Aires, dois anos depois enfrentar a Argentina na Copa Roca. Nomes como Julinho, Chinesinho e Almir tentavam se firmar com a camisa da Seleção Brasileira no Monumental de Nuñez. Entretanto, a primeira impressão não foi das mais agradáveis. Facilmente envolvido pela Argentina dos velozes Pando e Belén, o Brasil perdeu por 4 a 2 em jogo no qual a equipe chegou a esboçar reação, mas sempre esteve aquém dos argentinos.

Veio a segunda partida, e em três dias o técnico Vicente Feola descobriu como neutralizar o adversário: marcação especial sobre o meia Pando. Sem conseguir deslanchar em campo, a Argentina viu o Brasil mandar na partida do início ao fim, e o Monumental de Nuñez se tornou palco para o show de Delém (substituto do machucado Almir), que fez os dois gols que forçaram a partida a uma prorrogação. Sosa abriu o placar para os argentinos, que nem assim conseguiram o domínio da partida e acabaram castigados com o empate, marcado por Julinho. No segundo tempo, o zagueiro Servílio fez o gol da vitória definitiva por 4 a 1.

A soberania na Copa Roca prosseguia. Entretanto, poucos jogadores tiveram sua trajetória na Seleção Brasileira prorrogada. Aymoré Moreira, que substituiu Feola (afastado por problemas de saúde), preferiu levar a equipe campeã de 1958 quatro anos mais velha. E Delém, autor de dois gols e do passe para o gol de Julinho na Copa Roca de 1960, caiu no esquecimento.

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1963 - Neutralizados em São Paulo, Pelé e o Brasil acham inspiração no Maracanã




Os 90 minutos do primeiro duelo pela Copa Roca de 1963 deram a impressão de que finalmente a Argentina neutralizara o pesadelo dos adversários da Seleção Brasileira. No Pacaembu, cerca de 40 mil torcedores viram Cielinsky se tornar o primeiro marcador argentino a vencer Pelé. Sem o destaque de seu camisa 10, o Brasil até conseguiu dois gols vindos dos pés de Pepe, mas a falta de organização nas subidas para o ataque (prejudicado também pela lesão de Coutinho) comprometeu o escrete canarinho. Com dois gols do excelente Lallana e um marcado por Juárez, o 3 a 2 em que Pelé pela primeira vez não marcou diante dos argentinos foi visto como "triunfo sem discussão" pelo jornal El Gráfico.

No entanto, o Rio de Janeiro mostrou que Pelé não tinha discussão. Sob os olhares de 130 mil presentes, o então bicampeão mundial mostrou toda sua inspiração no Maracanã. Num jogo cercado de habilidade e faro de gol, o camisa 10 por duas vezes foi parado com falta dentro da área - e nos dois pênaltis fez o bom goleiro Andrada buscar a bola no fundo da rede (seis anos depois, Pelé venceu Andrada também num pênalti, desta vez no jogo Vasco e Santos, no qual o camisa 10 fez seu milésimo gol).

Além de marcar mais um em lance no qual deixou três adversários para trás e acertou chute da intermediária, o jogador deu passe para o gol de Amarildo na vitória por 4 a 1 - o gol argentino foi de Juárez, de falta. Uma vitória para cada lado, e mais uma vez prorrogação. Nos 30 minutos extras, Menotti estava disposto a tornar a luta de Pelé em vão, quando fez cruzamento para González vencer Gilmar. Só que novamente o camisa 10 encontrou em campo seu substituto imediato em 1962. O "Possesso" Amarildo, cara a cara com Andrada, decretou o empate. No total, 5 a 2, Brasil campeão por ser detentor da taça da competição anterior, e Pelé novamente entrou para a história, como o primeiro brasileiro a marcar três gols numa partida só contra a Argentina.

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1971 - Brasil começa a se acostumar com a ausência de Pelé e a tática da cautela com o adversário



Em novo hiato na realização do torneio - oito anos - a Copa Roca voltou a ser realizada um ano depois da terceira conquista brasileira na Copa do Mundo. Após três edições tendo Pelé como jogador fundamental para suas conquistas, a equipe do técnico Zagallo começou a tentar se ajeitar para a ausência de seu grande camisa 10.

Alguns remanescentes importantes para o título da Copa do Mundo, como Gérson, Rivellino e Tostão, ainda estavam presentes. Mas o futebol dos brasileiros parecia cada vez mais voltado para o estudo do adversário e o receio de perder para a equipe de Madurga e que tinha o artilheiro Carlos Bianchi. No Monumental de Nuñez, a primeira partida terminou em 1 a 1 (Paulo César Caju para o Brasil e Madurga para os argentinos). O segundo jogo repetiu o placar em 1 a 1 - tanto no tempo normal, com Fischer abrindo o placar e Tostão empatando - quando na prorrogação, quando Onega fez o gol argentino e Paulo César Caju novamente garantiu a igualdade.

A Seleção Brasileira voltava com um título para o Brasil. O primeiro sem Pelé. E uma conquista que deixava o país com a dúvida sobre qual caminho o selecionado iria seguir a partir daquele momento.

Obs.: algumas revistas dizem que o título de 1971 foi dividido devido aos dois empates. Mas de acordo com o livro de Newton César de Oliveira Santos, o Brasil foi o único a vencer esta taça porque o critério de desempate era dar a taça para quem venceu a edição anterior.


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1976 - O melhor do Atlântico



Dois anos depois do amargo quarto lugar na Copa do Mundo (na qual o sonho do tetracampeonato mundial foi interrompido pelo Carrossel Holandês da Holanda de Cruyff e sepultado pelo gol de Lato na decisão do terceiro lugar com a Polônia), os brasileiros saudosos viam somente Rivellino da geração campeã de 1970. Valdir Peres, Marinho Chagas, Beto Fuscão, Chicão, Lula, Falcão e Zico agora eram os nomes que vestiam a amarelinha.

A Copa Roca também perdia seu brilho. Não era mais uma competição à parte. Tratava-se apenas de um nome de torneio antigo "incorporado" à Taça do Atlântico. Mas o duelo entre argentinos e brasileiros ainda tinha seu valor, porque depois de passarem respectivamente pelo Paraguai e pelo Uruguai, os dois países faziam o jogo final de cada turno da competição.

E o brilho mais uma vez foi em verde e amarelo. Primeiro no Monumental de Nuñez em fevereiro, quando os brasileiros seguraram a pressão argentina e marcaram dois gols em lances de bola parada - o primeiro com Lula desviando falta cobrada por Marinho Chagas, e o segundo numa bela cobrança de Zico que parou no ângulo. Kempes, de pênalti, diminuiu o placar. Brasil e Argentina se reencontraram somente em maio (devido a uma paralisação de um mês, o torneio só foi retomado em abril). Após novos confrontos com os demais adversários, só a vitória interessava para os dois países. Com a defesa muito bem postada, a Seleção Brasileira impediu os avanços do bom ataque argentino e, na frente, marcou duas vezes - com Lula e Neca.

2 a 0, Brasil campeão da Copa Roca. Brasil campeão da Taça do Atlântico. Mas, dois anos depois, nem mesmo a expressão "campeão moral" do técnico Cláudio Coutinho amenizaria a frustração da Seleção Brasileira terminar invicta, mas em terceiro lugar no Mundial. A geração de Daniel Passarella, Alonso, Valencia, Kempes e Ortiz teria em 1978 a conquista da Copa do Mundo.

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Fonte de pesquisa:

Brasil x Argentina - Histórias do maior clássico do futebol mundial (1908 - 2008)
, de Newton César de Oliveira Santos

Lancepédia


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Passados 25 anos de tantas histórias, Brasil e Argentina voltam a escrever o Superclássico das Américas. Quem serão os novos personagens apresentados nos jogos de Córdoba e em Belém?

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